Duas palavras com a mesma raiz, muito semelhantes, mas com significados, implicações nas vidas das pessoas e motivos muito diferentes.
Consumo é alguém adquirir, aproveitar bens, produtos, para satisfazer reais necessidades. Consumimos água e alimentos para podermos sobreviver. Comprar roupas é uma atividade de consumo motivada por uma necessidade real, precisamos nos vestir para vivermos numa sociedade que não aceita a nudez no dia a dia, também para agasalhar nossos corpos do frio, da chuva. Consumimos energia elétrica para que tenhamos uma série de confortos em nossas casas, ambientes de trabalho, mesmo porque hoje em dia é quase inimaginável nossa sociedade funcionando sem energia elétrica. Ou seja, o consumo se baseia em necessidades primordiais para o homem e para a sociedade na qual vive (o que pode variar de pessoa para pessoa, de sociedade para sociedade, porém). Até aqui, vemos que o consumo é uma atividade vital.
O consumismo, por outro lado, é o ato, ou hábito, de adquirir produtos em geral supérfluos sem que haja necessidade real, de maneira muitas vezes compulsiva, gerando até mesmo problemas financeiros para as pessoas, que desviam parte do dinheiro que seria empregado para fins mais necessários para compras sem necessidade. Há quem chegue a graus extremos de consumismo, comprando montes de coisas sem nem saber o que são, para que servem, e depois se arrependem ao ver que perderam dinheiro e criaram dificuldades financeiras para elas mesmas, por vezes sentem-se culpadas, mas não conseguem evitar que essas atitudes consumistas e negativas se repitam. Mesmo sem falar de casos extremos, as atitudes consumistas não costumam levar a fim positivo nenhum. Compra-se por comprar, não se satisfaz de verdade necessidade alguma, mesmo que temporariamente isso pareça acontecer.
Em nossa sociedade atual, o consumismo é incentivado pelas empresas, na mídia, mesmo os indivíduos passam a achar que é “correto”, necessário até. Muitos o entendem como sinal de status, de riqueza, de estar “antenado” com as novidades do mercado. Outros consomem vorazmente para gerar uma (falsa e transitória) sensação de bem-estar interior, como se fosse urgente, vital comprar algo para se sentirem em paz, ou mais felizes.
Que uma “shopping-terapia” às vezes faz bem não se pode negar. Você se dar um presente quando está triste, ou quando quer se fazer um agrado, ou a outra pessoa, por achar que merece, isso é válido e melhora o astral, sim. Mas quando a “shopping-terapia” é frequente, útil para preencher um vazio interior que não se entende ou amainar uma dor, uma necessidade gritante, é hora de parar e refletir, procurando entender o que acontece.
Muito diferente do “luxo útil” que já citei em outro artigo, o consumismo desenfreado é mais um sinal de alerta do que de satisfação de uma necessidade verdadeira. Por que alguém se deixa levar pela mídia, por exemplo, e passar a ser uma pessoa consumista, que acha que estará e/ou será melhor se trocar de celular a cada 6 meses, ou todo ano comprar um carro novo, toda semana comprar uma peça de roupa nova…? Será que faltam alguns valores e certezas internos nessa pessoa, do tipo “meu valor e qualidade como pessoa não se medem pelo que tenho, mas pelo que sou de verdade”? Talvez sim. Talvez a pessoa esteja confusa e ache que o consumismo é a atitude certa em nosso mundo atual, já que ela é bombardeada por mensagens para que compre, compre, compre… Talvez tenha atitudes consumistas (consciente ou inconscientemente) para se sentir aceita num grupo, ou demonstrar estar num “nível superior” perante outros e “levantar” uma autoestima comprometida. Ou, como já dito, tem no consumismo uma “solução” (paliativa, temporária) para seus problemas, usa-o para esquecê-los.
Só que, como já dito, o bem-estar gerado por tais atitudes, se existe, é efêmero. Os motivos que levaram a pessoa a comprar e comprar não desaparecem, e aí ela permanece nessa roda-viva de compras, gastos, permanência de insatisfações, compras, gastos…
Quando a gente se percebe consumista, e isso gera um mal-estar, pode pintar uma culpa por nossas atitudes. Mas, menos culpa e mais ação. O que já foi feito, passou. Importante daí para frente é tentar entender o que motiva as atitudes, olhar para dentro de nós e avaliar o que acontece. Isso é um processo de autoconhecimento, de redescoberta do eu e de seus valores sinceros. Só assim poderemos encontrar e resolver os conceitos distorcidos que temos, a desorientação que nos acomete, os problemas de autoestima que porventura existam. Poderemos valorizar o que realmente importa, fortalecer-nos internamente e perante mensagens deturpadas externas e internas, fortalecer nossas ideias construtivas, abandonar falsos conceitos. Crer realmente que a satisfação e o bem-estar verdadeiros vêm do SER, e não do TER ou do PARECER.
Marcus Vinícius P. Oliveira - Psicólogo organizacional, palestrante e consultor de empresas. Autor do livro de bolso “O passo além da competição”. Diretor da Liner Consultoria.